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Como se liberta a poesia atrás de umas grades

Project: A Poesia não tem Grades

Não há fuga possível, mas escape, em forma de poesia. Uma bebedeira de letras com menos efeitos secundários que outros vícios que os conduziram às celas.

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45 minutos de evasão do sistema de siglas e designações protocolares. Da Ala A da UDL, ou Unidade Livre de Drogas, e da numeração que lhes furtou o nome de baptismo. Hoje, são 50. Arrumados nos assentos de uma das salas do Estabelecimento Prisional de Lisboa, consoante a cedência a aparecer no retrato ou a intransigência na protecção da identidade.


“Ah, isto é que é a poesia!” A constatação que dá título à iniciativa cai-lhes no goto e com ela caem os mitos à medida que conhecem os autores para além das capas dos livros. A desconfiança também baixa a guarda. Os braços vão desfazendo as cruzes defensivas e os sorrisos começam a viajar de orelha a orelha quando as palavras fazem sentido. “A poesia é expressão de liberdade, não obedece às regras de outros textos”, lembra Filipe Lopes, o contador de histórias que as tem levado às escolas, bibliotecas e cadeias de Norte a Sul do País. “Efectivamente a poesia não tem grades. Quando lemos, conseguimos abrir janelas lá para fora. A poesia nunca nos aprisiona a capacidade de imaginar.”


A ementa da sessão de animação cultural é ecléctica: Camões, Sophia de Mello Breyner, António Gedeão, Eugénio de Andrade, José Luís Peixoto, António Lobo Antunes, Fernando Pessoa, Alexandre O’Neill, Mário Henrique Leiria. É com ela e por ela que Filipe responde aos ‘porquês?’ que os rostos da plateia escondem. “Sempre gostei muito de ler e em casa sempre houve muitos livros. Um dia, um texto mudou a minha vida. Tinha vinte e poucos anos e não sabia que direcção tomar na minha vida.


A diferença entre estar aqui ou no outro lado é mínima”, confessa o ‘moderador’, no arranque desta “conversa com versos”. “Quem gosta de ler?”, arremessa para a esquerda e para a direita. Apenas 4 tímidas mãos se erguem a medo. “E quem gosta de poesia?” – menos ainda dão sinal de vida. “E de futebol?” – levantam-se orgulhosas em número esmagador. “E de música?” – fazem o pleno. “Fico muito satisfeito. Afinal, todos gostam de poesia!”, aponta Filipe. Seguramente porque deve muito à omnipresença e encontra-se – e encontra-nos – em todo o lado, ainda que as barreiras físicas se interponham.
“O livro é uma riqueza. Quando entramos num de que gostamos muito, vamos para outro lugar. Temos a possibilidade infinita de chegar a montes de sítios”, confirma Maria Cabral, do Instituto do Livro. O grupo não pode arredar pé. Mas a pena, cumprida entre quatro paredes, pode ser abrandada graças a uma esperança que não definha. “A receptividade é boa. O pior que tive foi apatia, mas nunca uma reacção agressiva ou violenta. As prisões e as suas estruturas são diferentes.

 

Veja a reportagem completa neste link

Reportagem publicada no Correio da Manhã em 8 de Julho de 2007

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